6.12.08

Num desses ônibus de piso baixo, onde só a parte da frente e a de trás tem uma elevação diferente.
Bem, lá estava eu, a três pontos do meu destino, de pé, encostado num vidro que dividia as pessoas sentadas das pessoas em pé.
Ví uma senhora subir no ônibus, cabelos tingidos de negro e pele bem morena de sol,
usava uma camisa branca e uma bermuda jeans,
uma sandalha meio modernete e uma bolsa grande de couro sintético.

Ela se sentou do outro lado do vidro onde eu estava encostado,
notei que ela passava um batom bem, mas bem rosa mesmo nos lábios.
Até ai ok, continuei me distraindo com o resto que acontecia ao meu redor,
não pude deixar de notar que a senhora também passou um delineador nos olhos.
Mas quando eu olhei de novo, ai sim me espantei um pouco.
Ela segurava outro batom, e quando me dei conta que ela estava passando ele nas bochechas, parei para assistir,
me lembrava aquelas crianças no dia do índio com listras de batom no rosto pintadas pelas próprias mães.
Ela passava o batom e olhava no espelhinho, depois espalhava o batom nas bochechas com os dedos.

Não tenho certeza se expliquei direito como estávamos dispostos no ônibus,
a senhora estava sentada, olhando para seu espelho minúsculo e se maquiando,
atrás do espelho havia um vidro,
e do outro lado do vidro estava eu, olhando para a senhora provavelmente com cara de assombro,
nossos olhos estavam quase na mesma altura.

Ai quando ela passava o batom na testa, ela olhou por cima do espelho,
deve ter me visto, disfarcei por alguns segundos, e voltei a olhar.

Quando ela terminou de passar o batom por cima das pálpebras e espalhar bem,
olhou para mim e fez aquela gesto de "O que você acha?",
sabe aquele gesto que seus ombros sobem, uma de suas sobrancelhas também,
suas mãos se afastam um pouco, sua cabeça pende pra um lado (em geral o mesmo lado da sobrancelha) e por fim você faz um biquinho.

Eu olhei e disse, quebrando o silêncio de ruídos de mp3 do ônibus, "Ficou bom!" e sorri,
todos no raio de dois metros olharam pra mim,
fiquei lá, sem graça por mais alguns minutos e então desci no meu ponto.

O fato é que já vi coisa pior nos ônibus daqui,
é comum gente cortando as unhas, mulher tirando pelo do punho é menos comum,
já vi até uma mulher passando laque dentro do ônibus.

Moow
Diretamente de casa
Ouvindo Nirvana "in bloom"

1.4.08

Uma coisa que sei, é que com minha altura, e dirigindo meu corsinha, a distancia ideal para deixar entre meu carro e o da vaga de trás é exatamente quando eu não vejo mais os faróis do outro carro.

Moow
Diretamente de casa
Ouvindo nada de bom

31.3.08

Outro dia fui buscar um remédio na farmácia, eram umas 22h00, quando cheguei um senhor começava a ser atendido por uma mocinha atras do balcão.
Discretamente o senhor passava para a mocinha um receituário azul, e falava com ela num tom de voz muito baixo e calmo.

LEXOFAST - falou bem alto a menina - Lexofast ... Lexofast ... deve ser parecido com Lexotam. Continuou a menina num tom de voz bem alto. - Só um segundinho que ja vejo pro senhor.

O senhor disfarçadamente me olhou, e parecia meio constrangido, quando debaixo do balcao a menina continuou. - Lexofast ... é senhor, não temos o Lexofast. - Se levantando, continuou.- Olhei aqui em cima do Lexotam, e não encontrei, mas devia estar aqui perto do Lexotam.

E o senhor falou. - Mas eu sempre compro esse remédio nesta farmácia, inclusive é a farmácia onde sempre tem.

Numa agitação digna de uma boa anfetamina, a menina se vira para o farmacêutico que estava chegando. - Fulano, O senhor aqui esta procurando o Lexofast, mas já olhei na prateleira do Lexotam e num tem, porque com esse nome deve ser a mesma coisa!

O farmacêutico chega com muito mais tato, pega a receita e fala num tom de voz bem baixinho com o senhor. - Ah! Esse remédio é mais difícil de encontrar mesmo senhor, por que ele é pouco receitado. - Checa alguma informação no computador, e anda em direção a prateleira onde a menina estava, pega uma caixinha, e diz. - Achei senhor, venha aqui que vou te da uma cestinha.
O senhor se sente muito mais confortavel e segue o farmacêutico.

A menina fez cara de "aé", olha para mim como se eu tivesse acabado de chegar, e diz. - Em que posso ajuda-lo? - Com os olhos vidrados e um sorriso assustador.

Moow
Diretamente de casa
Ouvindo Daft Punk, "Too Long"